Carta ao apóstolo Paulo,
Charles Phinney
Igreja Presbiteriana da Ásia Menor
Comitê de Missões
Paulo, o apóstolo
a/c de Áqüila, o fabricante de tendas
Corinto, Grécia
Caro Paulo,
Recentemente
recebemos uma cópia de sua carta aos gálatas. O comitê me orientou a informá-lo
de várias coisas que nos preocupam profundamente:
Inicialmente,
consideramos sua linguagem um tanto desequilibrada. Na carta, após a breve
saudação aos gálatas, você imediatamente ataca seus oponentes afirmando que
eles “querem perverter o evangelho de Cristo”. Então diz que esses homens
deveriam ser considerados “malditos”; e, em outro lugar, você faz referência a
“falsos irmãos”. Não seria mais caridoso lhes dar o benefício da dúvida - pelo
menos até a Assembléia Geral ter investigado e julgado o assunto? Para piorar a
situação, você ainda diz: “Quanto a esses que os perturbam, quem dera que se
castrassem!” (5:12, NVI). Essa declaração é apropriada para um ministro
cristão? A observação parece muito áspera e desamorosa.
Paulo,
temos realmente sentido a necessidade de preveni-lo sobre o tom de suas
epístolas. Você confronta as pessoas de maneira áspera. Em algumas cartas você
chegou até a mencionar nomes; essa prática tem, sem dúvida, angustiado os
amigos de Himeneu, Alexandre e de outros. Afinal, muitas pessoas foram
apresentadas à fé cristã pelo ministério desses homens. Embora alguns dos
nossos missionários tenham manifestado lamentáveis deficiências, quando você
fala desses homens de forma depreciativa só pode provocar sentimentos ruins.
Em
outras palavras, Paulo, creio que você deveria se esforçar para ter uma postura
mais moderada em seu ministério. Você não deveria tentar ganhar os que estão no
erro demonstrando um espírito brando? Neste momento é provável que você tenha
alienado os judaizantes a ponto deles não mais o ouvirem.
Por
causa de sua sinceridade exagerada no falar, você também diminuiu suas
oportunidades de influenciar futuramente a igreja como um todo. Se tivesse
atuado de forma menos franca, sua presença poderia ser solicitada para integrar
um comitê do presbitério para estudar a questão. Você poderia, então, ter
contribuído com suas percepções, ajudando a delinear uma boa recomendação do
comitê a respeito da posição teológica dos judaizantes, sem ter que resistir a
personalidades em disputa .
Além
disso, Paulo, precisamos manter a união entre os que professam a fé em Cristo.
Os judaizantes, pelo menos, permanecem conosco na confrontação do paganismo e
do humanismo à nossa volta e prevalecente na cultura do Império Romano atual.
Os judaizantes são nossos aliados na luta contra o aborto, a homossexualidade,
a tirania no governo etc. Não podemos permitir que diferenças sobre minúcias
doutrinárias obscureçam esse fator importante.
Também
devo mencionar que o conteúdo de suas cartas tem sido questionado, bem como seu
estilo. O comitê questiona a propriedade da estrutura doutrinária de sua carta.
É sábio importunar jovens cristãos, como os gálatas, com questões teológicas
tão pesadas? Por exemplo, em vários lugares, você alude à doutrina da eleição.
Você também entra numa longa discussão a respeito da lei. Talvez você poderia
ter provado seu caso de outra forma, sem mencionar esses pontos complexos e
controversos do cristianismo. Sua carta é excessivamente doutrinária, e provavelmente
servirá apenas para polarizar as diferentes facções nas igrejas. Novamente,
precisamos enfatizar a unidade, em vez de assuntos controvertidos, que
acentuarão as divisões entre nós .
Em
outro lugar, você escreveu: “Ouçam bem o que eu , Paulo, lhes digo: Caso se
deixem circuncidar, Cristo de nada lhes servirá” (5:2, NVI). Paulo, você tem a
tendência de descrever as coisas estritamente em termos de preto-e-branco, como
se não houvesse áreas acinzentadas. Você precisa usar expressões mais
equilibradas, para não se tornar exclusivista. De outra forma, seu ponto de
vista afastará muitas pessoas, e fará com que os visitantes não se sintam
bem-vindos. O crescimento da igreja não é promovido tomando-se essa linha dura
e permanecendo inflexível.
Lembre-se,
Paulo, não existe uma igreja perfeita. Precisamos tolerar muitas imperfeições
na igreja, porque não podemos esperar ter todas as coisas ao mesmo tempo. Se
você simplesmente pensar sobre sua experiência, você se lembrará de quanto fez
mal à igreja no tempo da ignorância. Ao refletir sobre seu passado, você pode
tomar uma atitude mais simpática para com os judaizantes. Seja paciente, e lhes
dê algum tempo para chegar a um entendimento melhor. Enquanto isso, regozije-se
pelo fato de todos compartilharmos a profissão de fé em Cristo, pois todos
fomos batizados no nome dele.
Sinceramente,
Charles Phinney
Coordenador do Comitê de Missões
Traduzido
por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Revisado por: Rogério Portella
Cuiabá-MT, 05 de Outubro de 2005.