Os Dois Devedores: O Religioso
Por Reinaldo Bui
Por Reinaldo Bui
Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa
tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois
devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinqüenta. Não tendo
nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o
amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou.
Replicou-lhe: Julgaste bem (Lucas
7.41-43).
Esta
parábola está inserida num contexto (leia Lucas 7.36 a 50) e não há como
dissociá-la deste acontecimento pois é ele que nos fornece o pano de fundo para
a compreendermos. Podemos, por exemplo, perceber nesta narrativa a real
motivação do fariseu, um religioso acima de qualquer suspeita na sua sociedade,
ao convidar Jesus para tomar uma refeição em casa, bem como seu tratamento nada
honroso para com Jesus. Em sua chegada àquela casa, Simão não lhe oferecera
água, não lhe cumprimentara com um beijo e nem ungira sua cabeça, demonstrando
assim indiferença e insolência para com seu convidado. Vemos também sua
avaliação prematura e equivocada sobre a atitude da mulher que, identificada
apenas como ‘pecadora,’ entra naquele recinto e protagoniza uma cena bastante
incomum mesmo para os padrões daquela época: lava os pés de Jesus com suas
lágrimas, enxuga com seus cabelos, cobre-os de beijos e unge-os com um óleo
aromático. Que julgamento você acha que Simão fez sobre as motivações daquela
‘pecadora?’ Sem nada entender, e completamente insensível à situação, ele não somente
não se arrepende de suas faltas, mesmo as mais grosseiras, como ainda assume
uma posição arbitrária julgando e condenando tanto aquela mulher quanto Jesus
por permitir que ela o tocasse. A mente engessada deste observador da lei
estava tão enrijecida que não conseguia se emocionar com ela. Ele estava tão
obcecado por sua ardilosa investigação que não deu caso aos seus próprios
pecados. Sua mente treinada deu o alarme: "Se este fora profeta, bem
saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora."
Este
“silencioso comentário” revela o que se passava em sua cabeça. Jesus ,
então, conta a parábola, que é o eixo desta história. Ao lê-la, automaticamente
associamos a mulher pecadora ao maior devedor e o fariseu ao menor. Simão fez o
mesmo. Porém, não é esta a associação que Jesus faz. Ele não está dizendo:
"Olha Simão, como você tem pouco pecado para ser perdoado, então você ama
pouco, enquanto ela... veja quanto pecado!" O recado que Jesus passa para
Simão é: "Você, Simão, tem muitos pecados (alguns dos quais vemos neste
texto), mas nenhuma percepção deles e, consequentemente, não se arrepende.
Desta forma, você pouco foi perdoado e, naturalmente, pouco ama." Em
outra passagem, Jesus declarara aos religiosos da sua época:
Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos
precedem no reino de Deus (Mateus
21.31).
Simão era,
com certeza, um “observador da lei” na vida alheia. Este deve ser um alerta
para nós. A religiosidade cauteriza a mente. Ela é enganosa e traz consigo
algumas armadilhas nas quais facilmente caímos. Por isso, devemos cuidar (como
Jesus orienta) para que o fermento dos fariseus não cresça em nossos corações. Se
nós tivéssemos a idéia de quão pecadores somos, penso que a Igreja estaria
desfrutando de muito mais saúde atualmente. Responda sinceramente, quem é o
maior devedor desta história? E quem é o maior que você conhece?
Medite...
Com que
velocidade julgamos os ‘pecadores’ à nossa volta... Quão capaz você é de
demonstrar amor por eles? Como você reage ou se comporta diante dos excluídos
da nossa sociedade? Como devemos tratar com drogados, prostitutas, travestis,
detentos, mendigos, meninos de rua, etc.? O que você tem feito por eles?
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