Você é grato?
A gratidão é uma
virtude.
Virtude é aquilo que
não nos é natural,
mas por alguma razão encontrou espaço dentro
de nós e,
de vez em quando, transborda
em gesto
na direção dos que nos
rodeiam.
Não somos, na verdade
– e digo por mim –, naturalmente gratos.
Os leprosos curados
foram dez,
mas apenas um voltou
para agradecer.
Mais naturalmente nos
atiramos a desfrutar
o presente do que a
reconhecer a dádiva de que fomos alvo.
Também não nos é
natural o reconhecimento de que somos o que somos como resultado de muito
investimento imerecido.
Desde o ventre, lugar primeiro de nossa “parasitagem existencial”, carregamos na alma a tendência de
Desde o ventre, lugar primeiro de nossa “parasitagem existencial”, carregamos na alma a tendência de
receber o máximo e doar o mínimo,
alguns de nós,
inclusive, acreditando que os outros
têm obrigação de doar
sempre.
Poucos são os que
sabem que não se bastam,
que não conseguiriam
sobreviver, crescer, amadurecer, florescer e frutificar para a vida sem o
esforço, não poucas vezes anônimo e na maioria das vezes não reconhecido,
daqueles que nutrem, ensinam, perdoam, perseveram na relação afetiva,
subsidiam, compartilham riquezas e transferem créditos.
É mais comum
encontrarmos em nós mesmos a propensão à vaidade e ao orgulho de quem imagina
que está onde está por mérito,
esforço pessoal,
trabalho árduo
e um pouco mais de
dedicação do que
a daqueles que não
chegaram tão longe.
Preferimos encarar a
vida como conquista,
mais do que como
dádiva.
Temos o que temos
porque fizemos por onde,
fulano não fez mais
que a obrigação,
dinheiro não cai do
céu,
sucesso só vem antes
de trabalho no dicionário,
e outras expressões,
que pululam(aparecer
em grande quantidade) a mente e o coração dos ingratos.
A gratidão é uma virtude porque acontece
A gratidão é uma virtude porque acontece
somente depois de
olharmos para trás e para os lados,
e encontrarmos olhares e semblantes
de tanta gente que nos
abriu portas,
ofereceu suporte,
caminhou conosco até mesmo em sacrifício de suas próprias aspirações e
esperanças.
Também é verdade que
são raras as pessoas que nos tratam assim. Predomina nas relações a
superficialidade dos sorrisos cosméticos,
a mesquinhez dos
interesses egoístas,
a ganância pela
vantagem unilateral
e o vício da
negociação constante.
A maioria dos que nos
rodeiam não funciona
na perspectiva da
relação compassiva e solidária,
mas da negociação – é
dando que se recebe,
e quando não há
possibilidade de receber de volta nem lucrar,
então não há razão para doar.
A gratidão é possível após a experiência da gratuidade:
A gratidão é possível após a experiência da gratuidade:
o favor que não é
explicado senão pela boa vontade
de quem favorece, sem
qualquer merecimento do favorecido.
De vez em quando,
somos invadidos por esse senso de gratuidade: uma alegria que nos faz tremer e
imaginar
o que teríamos feito
para merecer tamanha beatitude;
um êxtase que nos
arrebata, deixando a indelével lembrança
que nos sustenta por
dias a fio,
mesmo tendo durado
poucos segundos;
um contentamento que
se instala sorrateiro e que nos abraça,
no abraço de alguém
que amamos;
uma quase vergonha de
sermos tão bem cuidados pela vida,
pelos outros, por
Deus,
na certeza de que o
que experimentamos não se explica
pelo princípio da causa e efeito, pois sabemos
quem somos
e sabemos que desfrutamos de muito mais
do que deveríamos
desfrutar.
A gratidão é também a
expressão de uma consciência que foi apoderada pela convicção de ter sido
favorecida com abundância tal que jamais poderá ser recompensada. Tem coisa que
não há como pagar e, nessas horas, tudo o que se pode fazer é agradecer e
sorver o prazer.
Por essas e outras é que aprendi a dizer muito obrigado.
Por essas e outras é que aprendi a dizer muito obrigado.
Não sei se sou grato, mas pelo menos aprendi a
agradecer.
Sigo meu caminho
dizendo a todos muito obrigado,
na esperança de que um dia, de tanto expressar
gratidão, .
Deus me conceda de
fato um coração grato.
Muito obrigado.
Pr.Ed René Kivitz
Pastor da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo
Pr.Ed René Kivitz
Pastor da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo
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